sexta-feira, 6 de abril de 2012

Pegamonstros

ou 

"Como há brinquedos da nossa infância que se assemelham 
incrivelmente à realidade dos nossos dias"

Sabem aquelas pessoas que acabaram de nos conhecer, mas que se colam a nós como se fossemos os melhores amigos desde a infância?

Imaginem o seguinte cenário: vão a uma festa em que não conhecem quase ninguém. O anfitrião apresenta-vos a algumas pessoas e tem a infeliz ideia de comentar com uma delas a vossa profissão, a vossa preferência clubística ou até mesmo a vossa orientação política (a sexual, espero que seja evidente!). Essa pessoa apanha a deixa de ter algo em comum convosco - talvez vocês sejam médicos e essa pessoa sofra de artrite reumatóide; ou vocês são psicólogos e essa pessoa tem uma amiga que sofre de depressão pós-parto; ou vocês são benfiquistas ferrenhos e essa pessoa já esteve ao lado do Jorge Jesus e tiraram uma foto que ele autografou; tudo é válido para que comece a produção de "cola peganhenta" - e não mais vos larga a perna o resto da festa. Se vocês já conheciam pouca gente naquela sala, esqueçam a possibilidade de conviver seja com quem for durante o resto da festa. É que o Pegamonstro não vos deixará.

Já sem assunto e aborrecidos de morte (porque aquela é a pessoa mais desinteressante com quem alguma vez se cruzaram), tentam escapar-se devagarinho... "Ai, eu vou ali buscar mais um croquete" ou "Preciso mesmo de encontrar uma casa de banho". Esqueçam. "Eu também já petiscava mais qualquer coisinha" ou "Já agora, vou consigo e aproveito para lavar as mãos". Deixamos de ser um para passar a ser um com um Pegamonstro alapado às costas. E toda a gente na sala vai reparar. Vão ver o vosso ar desconfortável, o vosso sorriso amarelo, o enrolar e desenrolar do guardanapo de papel que têm nas mãos há mais de duas horas e que, naquele momento, já não é mais do que um estraçalhado de fibra de celulose...

A certa altura, o anfitrião aproxima-se de vocês e pergunta-vos se está tudo bem, se já provaram o bolo, se estão a gostar da festa... Vocês só têm tempo de abrir a boca, mas não chega a sair nada porque o Pegamonstro chega-se logo à frente: "Oh Fulano! Porque nunca me disseste que conhecias o Sicrano? Escondeste-me esta pérola porque a querias só para ti, era? Temos tanto em comum que temos mesmo que combinar qualquer coisa um dia destes e levar também o Beltrano!".
"Fuck!", pensam vocês. "F-U-C-K!". E limitam-se a sorrir. Um sorriso bem amarelinho...

Quando, finalmente, os primeiros convidados começam a sair, vocês aproveitam logo a oportunidade e arranjam uma desculpa para se irem embora também. "Ah e tal, foi um dia longo; dói-me a cabeça". Desenganem-se se acharem que o Pegamonstro vai ter pena de vós e aconselhar-vos um Panasorbe e uma boa noite de sono. Primeiro que tudo, dir-vos-á que também lhe dói a cabeça. Mas mais. Muito mais do que a vocês. E depois vai fazer o relato do seu dia, pormenorizadamente, para que vocês percebam como é uma pessoa tão ocupada e como seria impossível alguém alguma vez ter uma dor de cabeça pior do que a sua. E nisso, passam-se mais 45 minutos.

Desespero. Suores frios. Stress pós-traumático é o que vocês ganham à pala do raio daquela festa. Por milagre de Jesus Cristo, a criatura acaba por vos pedir licença para se ausentar e ir "mudar a água às azeitonas". Mais valia ter dito logo "mijar". Seria menos irritante. Mais neandertal, mas menos irritante.
Não é tarde, nem é cedo. Vocês saem mesmo sem se chegarem a despedir do dono da casa. Não faz mal; amanhã explicam. Dizem que tentaram dizer-lhe adeus, mas que ele estava muito ocupado a falar com outros convidados e não quiseram interromper. Vai parecer má-educação, mas antes parecer malcriado do que levar com aquela ameba por mais uma hora ou duas!

Enfim, em casa. Maldizemos a nossa (des)aventura e prometemos a nós próprios que da próxima vez que nos acontecer algo semelhante, seremos mais assertivos. Chega de fazer fretes!
Até ao dia seguinte... em que encontramos o desgraçado do Pegamonstro à saída do hipermercado e ele nos convida para um "cafezinho rápido" porque, já que estamos ali, quer aproveitar para nos fazer uma perguntinha... E nós não temos tomates para lhe dizer "não". Outra vez.

DAMN!
Odeio Pegamonstros.




6 comentários:

  1. LOOOL adorei :P
    Olhe lá senhora advogada...tenho um primo...que tem um amigo...que o primo do amigo...tem uma irmã...que o marido precisa de um trabalho seu LOOOOL

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  2. Sempre detestei pega monstros, pá...Nestas situações, a minha cara de má acaba por fazer a pessoa afastar-se.É que eu não consigo evitar e prefiro passar por mal educada do que fazer fretes...

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    1. Sou demasiado coração mole, Corisca! Nessas alturas (ainda) não consigo usar a minha "bitch face". Mas eu chego lá!

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