A pedido de inúmeras famílias, venho contar como correu a minha manhã no Tribunal. :)
Quando cheguei ao Tribunal de Família e Menores e me dirigi ao elevador para subir até ao gabinete do juiz (porque primeiro vemos sempre se há possibilidade de chegar a acordo entre as partes), deparei-me logo com uma "criatura" a descer as escadas com o seguinte aspecto: cheio de esterco, um boné de camionista, blusão de cabedal (estava sol e calor, apesar de eu hoje já ter assistido a chuva torrencial por 3 vezes), sem dentes da frente e umas mãos tão pretas que mais parecia ter andado a cavar terra (não, não reparei se tinha a unhaca do dedo mindinho).
Percebi logo que era o marido da minha cliente e que a coisa não ia correr lá muito bem (tiro-lhes logo o retrato). Não me enganei: burro que nem uma porta, ignorância mesquinha, pobreza de espírito, machismo retrógrado e alcoolismo puro (às 9h30 da manhã, que belo cheirinho a vinho de cheiro e tabaco entranhado - o meu trabalho é, de facto, muito glamouroso). Nem o juiz respeitou e fartou-se de lhe interromper o discurso num tom agressivo. Fiquei ansiosamente à espera (ia ser o ponto alto do meu dia) do momento exacto em que o juiz (que não é pêra doce e é bem conhecido por isso) o ia mandar deter por desrespeito ao tribunal (sim, já o vi fazer isso por bem menos), mas ele hoje estava especialmente paciente. Deve ter dormido bem...
O homem complicava por causa da casa, dos alimentos a pagar ao menor... queria por força "assinar" o divórcio... Conclusão: depois de eu lhe agarrar o braço (algum dia arrisco-me a levar um trambolhão) e lhe explicar de dentes cerrados que era assim que as coisas se faziam, que aquele era o procedimento normal em casos de divórcio ou então não havia acordo nenhum e teríamos que ir a julgamento fazer lavagem de roupa suja, com testemunhas parciais, designadamente os familiares dele e dela (são os meus preferidos! LOL), lá o homem disse que "lhe [a ela, esposa] dava o divórcio!". De rir! Até parece que ele ali manda alguma coisa! Acho que não sabe bem o que é um juiz e os poderes que tem...
"Dar" o divórcio, ok. Agora sair de casa é que não. Resumindo e concluindo: vão ter que continuar a viver juntos até que a Câmara Municipal decida quem é que fica com o contrato de arrendamento (é uma habitação de realojamento). No dia em que essa decisão for tomada é que eu quero ver... vai dar leilão! Mas também já não é nada comigo. A minha intervenção com aqueles dois acaba aqui.
Ah! Não me posso esquecer de vos dizer que no fim ainda tive que dar dois berros ao homem (não digo que me arrisco?) porque ele queria por força "assinar o divórcio" e dizia que não voltava ao tribunal mais vez nenhuma, que ou assinava hoje ou não assinava mais. LOL. Como é que se ultrapassa a barreira de "nada" que há num cérebro daqueles até chegar ao único neurónio funcional (aquele que ainda lhe permite ter a noção de que é para fazer chichi de pé, dormir quando tem sono, comer quando tem fome e ficar caído na valeta quando está bêbado) e se explica que não se assina nada, que a simples presença deles perante o juiz a manifestar a intenção de se divorciarem e a acordarem nos termos do mesmo é o suficiente? Que o juiz agora dá a sentença ("aquilo que aquela menina esteve lá dentro a escrever no computador", disse-lhe eu) que confirma que eles estão legalmente divorciados? Se entendeu ou não, não sei. O certo é que ainda resmungou "não me mandem chamar para mais nada disso que eu não venho". Acho que já não há remédio para pessoas assim. Por isso é que gosto mais de cães. São muito inteligentes.
Infelizmente, que é o que para aqui interessa, chapadas, chapadas, não houve. Ao menos tinha dado mais piada à coisa.
E brincando, brincando, levei 2 horas empatada naquilo! Deus me valha que a tarde ainda é longa...
Ah ah, lovely... ainda fazias um curso de defesa pessoal, não!!
ResponderEliminarQueremos mais destas :)
"aquele que ainda lhe permite ter a noção de que é para fazer chichi de pé"
ResponderEliminarlol