O texto da minha concorrente Claudiamar aqui. :)
O meu:
Artur
jogava € 10 no Euromilhões todas as sextas-feiras. Religiosamente. “Tenho uma
chave fixa. A vencedora.”, dizia ele à menina da tabacaria. “E depois gosto de jogar com uns números
daqueles que a máquina tira aí à sorte.”
Ela
olhava-o de cima a baixo, com pena. Reparava com pormenor no casaco de veludo
roçado e no boné do Benfica gasto pelo tempo. Ficava a olhar-lhe os ténis já
gastos enquanto a máquina emitia o bilhete. E pensava, em jeito de reprovação,
onde raio é que aquela criatura que mal parecia ter o que comer ia buscar € 10
todas as semanas. Ainda por cima para gastar ao jogo.
Estava
habituada a ver os mendigos ali das redondezas pedirem uns trocos “para uma
sandezinha”, segundo diziam. Desviava-se o mais que podia dos que arrumavam
carros em troco de uma moeda de 50 cêntimos, pois sabia que por ali
proliferavam seringas, bocados de papel de prata e outras coisas nojentas.
Morria de medo daquela gente. Da droga, da pobreza, da sujidade…
O Artur era
diferente. Magro, muito alto, aparentando cinquenta e poucos anos. Com roupas e
sapatos velhos, mas sempre com um ar lavado. Uma vez chegou a comentar com a
colega da tabacaria, enquanto lhe marcava os números: “Já viste como é que ele
tem as unhas tão limpas?”. Não lhe conhecia emprego nem família, mas também não
o via nos parques de estacionamento como aos outros. Não cheirava a tabaco nem
a bebida. Fazia-lhe espécie, o homem.
Num dia
chuvoso, sem clientes na loja nem pessoas na rua, entrou o Artur aos gritos:
“Ganhei, ganhei! Eu não lhe dizia, menina? Ganhei o primeiro prémio!!!”.
Inacreditável… Ele tanto persistira que a sorte acabou mesmo por lhe bater à
porta. “Parabéns! Já sabe o que vai fazer com o dinheiro?”, perguntou-lhe ela,
ainda meio atordoada com tanta excitação. “Ainda não sei nada. Só sei que tenho
que ir a correr contar à minha velhota!”
Meia hora
passada, ouve-se uma ambulância; chegam os Bombeiros e a Polícia. Uma multidão
junta-se em frente à tabacaria. O Artur jazia numa maca, inconsciente. “Perdeu
o bilhete vencedor.”, ouviu alguém dizer. “É claro que lhe deu um fanico a
seguir!”. Há um paramédico que pergunta: “Aqui o sem-abrigo tem alguém que o
acompanhe até à morgue?”. Sem pensar, acenou com a cabeça e entrou na
ambulância. Segurou-lhe a mão direita. Fria. Fechada. Cerrada. Não podia
acreditar…
Gostei, gostei mesmo!! :)
ResponderEliminarObrigada! :)
ResponderEliminarTens lido os outros? Segue os da Claudiamar, também. Verás como sairam coisas tão diferentes! :D