Ainda sobre o Campeonato de Escrita Criativa...
Deixo-vos o texto com que concorri na 3ª jornada/semana.
Não se esqueçam de ir ler o da Claudiamar!
Não se esqueçam de ir ler o da Claudiamar!
O tema: "Vista a pele de uma colher que está dentro de uma máquina de lavar loiça."
A "obra":
Bem dizia a Senhora Dona Claudete que o seu maior desgosto era nunca ter tido uma filha. Que as suas pratas e os seus serviços de porcelana haviam de ir parar às mãos das destrambelhadas das noras, que não lhes saberiam dar uso.
E a prova disso é que aqui estou eu, dentro de um aparelho que nunca tinha visto antes, mas que, ao que parece, é uma tal de máquina de lavar loiça. Sei-o porque ouvi a nora da Senhora Dona Claudete dizer ao menino Duartinho que “pusesse os pratos e os talheres dentro da máquina”. E aqueles pratos ali ao fundo comentavam que “esperavam que a lavagem corresse melhor desta vez”. Há ali uma colher de pau e uma pá Salazar que se queixam da qualidade do detergente que tem vindo a ser usado. Deixa-as sem brilho, soou-me.
Quer dizer, portanto, que eu, uma colher de servir feita da melhor prata nacional, componente de importância primordial de um faqueiro de 1945, vou ser lavada dentro desta… desta… coisa?! Se a minha Dona Claudete ainda fosse viva, havia logo de impedir o menino Duartinho de cometer tal atrocidade. Sim, porque entre a mulher e a mãe, ele sabia a quem obedecer…
Fui mandada buscar à caixa do faqueiro porque, minutos antes do jantar, a dona da casa reparou que lhe faltavam talheres de servir. Mas que bela anfitriã! Vê-se logo que não aproveitou os ensinamentos de quem sabia receber e lhos quis passar… Lembrou-se de “umas velharias que a sogra lhe tinha deixado” e que “por agora, teriam de servir”. Velharias! Bata na boca, minha menina!
Como se não bastasse a afronta de vir sozinha para a mesa sem o resto do faqueiro (que falta de etiqueta!), enfiou-me dentro do pirex de bacalhau de natas. Eu! Esta colher que já serviu foie gras, magret de canard e outras iguarias nos tempos em que o Senhor Comendador dizia à Dona Claudete que preparasse grandes festas para receberem os amigos!
Passei, portanto, de um objecto de luxo, lavado à mão com o cuidado de quem banha um bebé e polido pela minha rica Maria do Carmo até parecer um espelho (que a Dona Claudete não lhe dava margem para menos), para um qualquer utensílio de cozinha atirado para dentro de um electrodoméstico e preparado para ser lavado em três ciclos com detergente barato e abrilhantador.
Saudadinhas... Com este achava que ganhavas!
ResponderEliminarEste texto deu-me muito gozo escrever! :)
EliminarO PCF não gostava do meu estilo, pronto. Tenho que me habituar à ideia. LOL
ResponderEliminarAdorei os 2 textos!!! Pontos de vista diferentes e tão engraçados :)
Vânia da Graça
Obrigada, Vânia!
EliminarSe achaste estes diferentes, tens que acompanhar os restantes! Ainda estão piores! LOL
Beijinho