sexta-feira, 19 de julho de 2013

Competir a escrever #6

O tema da quinta jornada: "A beleza chora até morrer. Explore a metáfora."

A original versão da Claudiamar aqui. :) 

A minha:

Raquel queria ser famosa. Modelo ou actriz, tanto lhe fazia. Sonhava aparecer nas revistas, ir a festas, dar entrevistas e ser vista na televisão.
Era uma rapariga bonita, de uma beleza comum, mas singular à sua maneira. Tinha a pele clarinha, os olhos cor de avelã e um cabelo castanho cheio de caracóis que lhe davam tanta personalidade. No seu íntimo, contudo, degladiavam-se essa beleza e a inteligência emocional que guiava os seus passos, a sua forma de estar na vida. A primeira começava a perder a serenidade porque não gostava do que via. E chorava. A segunda, que tentava manter Raquel de pés assentes na terra, pouco a pouco foi perdendo importância perante aquela beleza insatisfeita e que chorava ansiosa e desesperadamente por mudanças. Não conseguiu pôr-lhe travão. Raquel sentiu-se de tal forma afectada pelo insistente e cansativo choro da beleza que perdeu a ligação que tinha com a inteligência emocional. Adormeceu-a.
Começou por pintar o cabelo de loiro, colocar lentes de contacto azuis, ir ao solário pôr-se morena e injectar botox nos lábios. Pouco depois, já a beleza chorava novamente; queria mais. Queria ser única, extraordinária, exótica. E por isso chorava. Raquel colocou implantes de silicone no peito e fez uma lipoaspiração. Inconsolável, a beleza achava que Raquel ainda não fizera o suficiente para poder alcançar o sucesso e continuava a chorar, diária e copiosamente. Raquel fez, então, um lifting facial e uma rinoplastia. A beleza achou pouco e chorou quase até não ter lágrimas. Queria ser admirada, caramba! Fez Raquel submeter-se a mais duas cirurgias ao nariz. Um desastre absoluto. Mais um retoque e o septo nasal poderia colapsar. A beleza ficara devastada!
Uma manhã, Raquel olhou-se ao espelho e viu que não era bonita. Havia sido. Mas sabotara-se a si própria. Vivera a falsa quimera de alcançar a perfeição e a sua beleza morrera. Morrera de tanto chorar. Agora não passava de uma aberração.
"E é por isso que a reencaminho para si, colega. Por mais cirurgias que lhe faça, não conseguirei devolver-lhe a formosura, mas a psicoterapia ainda vai a tempo de controlar o transtorno dismórfico corporal e evitar que ela insista nas operações plásticas. É que a beleza deu lugar à fealdade e facilmente a vida poderá sucumbir perante a morte".

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