domingo, 11 de dezembro de 2011

Da fome (ou falta dela)

Eu sou a maior chata do mundo para comer. Sempre fui. 
Aliás, pelo que a minha mãe conta, a hora da refeição lá em casa foi sempre um pesadelo, desde o dia em que nasci. Acho que até chorava, a coitadinha.

Hoje, quase aos 30 anos, continuo a ouvir os mesmos raspanetes na hora da comida (dos pais, do irmão, do marido, até dos primos e dos amigos): 

- "Carla, come!";
- "Está calada e come!";
- "Ainda tens o prato cheio";
- "Não te levantas da mesa enquanto não tiveres comido tudo". 
A pior? O meu pai: "Nunca levaste uma palmada na vida, vai ser agora depois de casada?".

Confesso que a coisa mais horrível que me podem dizer é: "Como não queres mais? Tanto pretinho a morrer de fome em África e tu vais deitar a comida para o lixo?". Fico com um peso na consciência que nem imaginam! E lá faço um esforço, quando a minha vontade é mesmo vomitar...
Mas atenção! Eu não sou capaz de pôr comida no lixo! Tento primeiro que alguém (mãe, marido...) a coma ou então, nem que seja, dá-la a um qualquer animal... E isso porque a minha querida mamã provocou-me aquilo a que se pode chamar "um trauma de infância".

Corria o ano da graça de mil novecentos e oitenta e tal. Aqui a menina entrou para a pré-primária. Mamã mandava o almoço todos os dias na bela da lancheira. Ao final do dia perguntava, desconfiada: "Comeste tudo?". A fim de evitar mal-entendidos, mamã disse um dia: "Nunca se põe a comida para o lixo! Jesus mata as meninas!"
É... Jesus não fica triste. Jesus não fica aborrecido. Jesus não castiga. Jesus mata de vez. Grande mãe! 

E pronto, se hoje em dia forem remexer na minha mala, encontrarão sempre coisas como: um resto de uma sandes qualquer com bocados de bolor; meia queijada de nata já toda desfeita; um croquete amassado e com bichos; um pacotinho de bolachas moles e às migalhas; etc.... Ah, no carro normalmente também há restos.

Confrontada a mamã, hoje responde: "Era para controlar aquilo que comias. Se não comesses tudo, eu queria saber quanto. A mesma banana que saía de casa à segunda-feira de manhã era aquela que voltava na sexta à tarde. Já podre."

20 comentários:

  1. Pois e o marido que não gosta de comer sozinho tem de esperar que a madame ganhe fome... resta dizer que às vezes fazemos refeições aqui ás 15h... e às vezes mais tarde...

    ESPERO que os rebentos tenham o apetite do pai! lolol

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  2. Hão-de ter! Tu não me rogues pragas!

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  3. LOOOOL muito bom mesmo...
    até eu que "pensava" que não comia muito, agora(desde que vou para a "tua" casa e sou "obrigada" a comer) como quase o dobro do que tu comes LOL

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  4. Ai, que a minha infência foi como a tua!! Ehehehehehe
    As minhas amigas, durante a faculdade, tinham pavor em jantar cmg, pq era sinónimo de esperarem uma eternidade para que eu acabasse de comer.
    Hoje estou ligeiramente melhor. Mas não curada! lol

    Beijinho,
    AC

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  5. Acho que não há cura para isso, AC! ;) Se houvesse o raio de uma pílula que pudéssemos tomar para substituir a refeição, acredita que eu era a primeira a tomá-la!

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  6. aBelha querida, não é difícil comer o dobro do que eu como... ;) lol

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  7. Ahahah oh mulher guardar comida na mala?! Realmente não medem as conversas que dizem às crianças.

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  8. Eu também fui assim. Só gostava de iogurte, que ainda hoje adoro, e ovo estanado (estrelado). Só almocei uma vez no refeitório da escola. Depois vinha a correr almoçar a casa. Agora como de tudo e então quando não sou eu a fazê-lo ainda é melhor. Claro que há coisas que gosto mais que outras!

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  9. Clara: iogurte??? Deus me livre!
    Vomito só com o cheiro! lol

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  10. Gasper: a culpa é toda da minha mãe! :P

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  11. Não és única assim, não te preocupes.
    Embora eu coma quase tudo que vejo num prato que goste, sou é esquisito. Peixe, muito pouco, carne, não pode ter gordura, etc. E por isso fui castigado. Como? Bem, estou escrevendo isso morto lá do Céu, é que Jesus matou-me.

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  12. Dino,

    Tu não me digas que punhas comida no lixo?! Jesus matou-te! Mas não te levou consigo... mandou-te lá p'ra baixo... :P

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  13. Mesmo assim ele foi porreiro e levou-me pra cima. É que foi só uma cheeseburguer que meti no lixo. Se tivesse sido um Big Mac, não sei se me safava. E quem diria que eu apanho rede wireless tão bem aqui no Céu?!

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  14. Fogo! Um Big Mac era bem coisa para ires fazer uma visitinha a Belzebu...
    Wireless?? Vive-se (morre-se) bem, aí em cima... ;)

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  15. Vai uma troca?
    Dou-te um bocadinho do meu apetite e tu dás-me um bocadão da tua falta de apetide...
    Boa?

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  16. É, adoro iogurtes. E sabes o que eu fazia? Era a primeira a chegar à mesa para ver o que estava no meu prato e que não gostava, ou seja, praticamente tudo. Distribuía pelos pratos do meu pai e mãe, senão, engolia sem mastigar. Felizmente que o meu pai me obrigou sempre a comer de tudo!

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  17. Opah...eu queria tanto, mas tanto ter um bocadinho da tua falta de apetite!!!

    Mas em pequena tambem era dificil...bastante ate!
    Mas mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades, e hoje sou um bom garfo...

    Tenho uma prima (como irma) que tem 23 anos, e vivi com ela imensos anos, e digo-te, nunca vi aquela rapariga comer com prazer...nunca!

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  18. Corisca,

    Aceito a tua proposta. Quando concretizamos o negócio?

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  19. Clara, gostei da tua técnica! Grande ideia essa, de dividir os males pelas aldeias! :)
    Ao contrário do teu pai, a minha mãe incutiu-me um péssimo hábito: quando eu fazia birras por não gostar de uma comida qualquer, ela dizia logo que me fazia outra. Tudo para ver se eu comia qualquer coisa!

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  20. Kristianna,

    Comer com prazer não é bem o termo mais adequado, mas... posso dizer que às vezes tenho uma ou outra refeição que não são um completo martírio. LOL

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