segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Do futuro dos Açores

A propósito do meu post anterior e do comentário nele deixado pela minha querida AC, passo a explicar a minha reacção aos resultados eleitorais de ontem.


Devo começar por dizer que não tenho nada contra o Dr. Vasco Cordeiro, pessoa com quem nunca privei, mas que me parece simpática e acessível (embora isso não chegue) e que já me foi descrita por uma amiga comum e colega de profissão de ambos como sendo muito inteligente. Acrescento que nada tenho contra o Partido Socialista nem os seus militantes, simpatizantes e assim-assim. Não me identifico com os seus ideais políticos, mas se um dia aparecer alguém em representação daquele partido que me pareça digno de ser ouvido com atenção, cujas ideias vão de encontro aos meus princípios e valores e cujas propostas de actuação satisfaçam os meus objectivos e salvaguardem os meus interesses enquanto cidadã, não me farei rogada em votar nesse candidato. Porque considero que temos que olhar para a pessoa em questão e para aquilo que transmite ser e não para o que aqueles que o precederam no partido fizeram. Este meu argumento pode ser falacioso porque em política, nem tudo o que parece é e depois de se estar no poder é que se vê. Mas eu sou como Rousseau... o homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe.

Porque é que eu não queria que o PS se mantivesse na condução do Governo Regional dos Açores? Porque nada vai mudar. As medidas socialistas dos "pobres e coitadinhos" vão continuar a prevalecer em detrimento daqueles que realmente trabalham. Os amigos e os parentes vão continuar a ser beneficiados.  Tolos é que eles não são! Como se diz na minha terra... quem tem padrinhos é que se baptiza. Eu não tenho padrinhos desses e orgulho-me de não ter precisado deles até agora. Mas às vezes (naquelas alturas em que chego a casa de rastos e vejo tudo ao meu redor a coçar na micose, mas ainda assim a queixar-se) bem que me apetecia...  

Por aqui, nestas ilhas que querem e não querem ser portuguesas, nestes pedacinhos de terra que se sentem ligados ao Continente, mas que não deixam de sentir uma individualidade muito própria, pouco se vai alterar nos próximos 4 anos. As tarifas aéreas vão continuar a preços exorbitantes e, inevitavelmente, a distância entre os Açores e Portugal Continental vai acentuar-se cada vez mais. Porque a companhia aérea vai ser a mesma e só aquela. Ou não estivessem lá os boys... Os Rendimentos Sociais de Inserção vão continuar a ser distribuídos a torto e a direito e aposto (um dia voltamos a ter esta conversa!) que aquela lei toda bonitinha que saiu no noutro dia vai ser só para inglês ver e vai permanecer tudo na mesma salganhada e  ao "Deus dará".

O Turismo decairá continuamente e de forma acentuada porque vir para os Açores sai mais caro do que ir passar férias para as Canárias e porque o atendimento continua ser uma desgraça. Temos em S. Miguel uma das melhores escolas de hotelaria do país, mas ainda assim os putos saem de lá com uma vontade de trabalhar e ser bons profissionais que só visto. O resultado? Apetecer-me esbolachar alguém sempre que vou a um café, restaurante ou loja... E eu sou de cá! Imaginem os pobres dos estrangeiros... É preciso dinamizar o sector! Colocar gente competente a comandar o barco. Incentivar as pessoas a trabalhar com gosto e qualidade. Eu vivo no meu mundinho cor-de-rosa, eu sei...

A nível de emprego, uns (os "técnicos" - há-os de todas as áreas, meu Deus!) vão sair de umas Secretarias e passar para outras, outros vão subir de posto e há gente que vai passar do privado para o público porque vagas vão ser criadas (o desemprego não parece afectar a função pública por estas bandas - com excepção da educação - já que nos órgãos administrativos continua a haver contratações, comissões de serviço, and so on, and so on...). No comércio e indústria, há muita empresa por aí que pode respirar fundo após o sufoco de viver na incerteza durante os últimos meses, uma vez que o Governo continua o mesmo e os seus contratos manter-se-ão. Que seria delas...?

Mudanças são necessárias, mas eu não acredito que vão acontecer. Desde logo por causa do slogan da campanha socialista: "Renovar com Confiança"... Com "renovar", creio estarem a dirigir-se aos votos de apreço pela liderança do PS nos destinos da Região. A "confiança" depositada no estilo de governação desenvolvido nos últimos dezasseis anos. Não acho que o sentido atribuído seja o de "mudar", "fazer alterações", que era o desejado. Mas cada um interpreta como entender.
Fiquei com a sensação de que na cabeça dos socialistas açorianos ontem ressoava a convicção de que "em equipa vencedora não se mexe". As minhas dúvidas são em relação ao conceito de vitória...

Estou profundamente convencida que que a derrota significativa do PSD foi causa directa da actuação do Primeiro-Ministro e do seu Executivo. Da ligação à dívida externa. Da sujeição ao memorando da troika. E não falo por convicção partidária. A sério! Estou a fazer um interpretação dos factos à luz do que a minha consciência me diz. É que ainda ontem ouvi que "não vale a pena votar na Berta Cabral porque ela é do PSD e o Passos Coelho também é do PSD e o PSD é que manda no Governo e o Governo está a cortar com tudo e a aumentar os impostos e ela cá tem que seguir as ordens que eles no Continente derem e vai ter que fazer igual". Sim... assim tudo seguidinho. Cada um sabe de si e é livre de achar o que entender. Isso é democracia. Mas preocupa-me a falta de informação e de discernimento.

E o que me entristece? Ver que a abstenção ultrapassou os 50%. "Ah, o meu voto não vai mudar nada!". Pois ... apenas entra nas contas para a existência de uma maioria absoluta ou não! O que faz diferença nas decisões que ditam o nosso destino, ó energúmenos! E depois reclamam! Português que é português reclama sempre. 

Se não manifestam a sua opinião antes, não podem criticar depois. Era assim que devia ser. 
Mas isto sou eu a pensar cá com os meus botões...





6 comentários:

  1. Concordo com praticamente todo o texto que escreveste, quero apenas reforçar que senti vergonha alheia quando soube a percentagem de abstenção nos Açores, de facto, estas pessoas não deveriam ter a partir de agora e nos próximos 4 anos qualquer direito a reclamar do Governo.
    Acrescento também que não consigo compreender como o Pedro Moura será um possível deputado... OMFG!!!

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    1. Essa do Pedro Moura é outra... Tenho a certeza de que a sua integração na lista do PS foi apenas uma estratégia para angariar os votos das velhotas que são fãs do "Bom Dia". :)
      Quero é rir-me quando ele fizer a sua primeira intervenção na Assembleia e os socialistas ficarem todos com vontade de se enterrar! LOL

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  2. Bom dia, querida,

    olha, disseste tudo exactamente como penso e tudo o que tenho defendido nesta campanha eleitoral.
    O Dr. Vasco Cordeiro não conheço, não sei se é boa pessoa ou má pessoa, penso que é alguém discreto e inteligente. O resto veremos.
    Defendi uma mudança única e exclusivamente pelos motivos que apontaste. Já os referi inúmeras vezes. O sistema não está bem e tudo me diz que vai piorar. As personagens são sempre as mesmas só mudam de cadeira. E eu sinto-me injustiçada, porque fartei-me de estudar, com a minha idade tenho um curriculo que a maioria dos meninos-deputados nem se esforça por ter e eu não consigo arranjar emprego (nem vale a pena concorrer para os concursos públicos!) e eles estão salvos, descansados e protegigos. É INJUSTO E ISTO NÃO É DEMOCRACIA!
    Enfim, será mais do mesmo e eu vivo angustiada com o meu futuro.

    Beijinho,
    AC

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    1. Gosto da expressão "mudar de cadeira". :)
      É nessas alturas que desejamos também ter "padrinhos", não é?

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  3. Respostas
    1. Há quem não concorde (e que esteja no seu direito), mas escrevi-as em consciência.

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